Vínculo terapêutico na psicoterapia de casal
27 de Dezembro de 2022
O vínculo terapêutico na psicoterapia de casal é um valioso recurso capaz de favorecer um processo de mudança quando esse é efetivamente almejado.
Em primeiro lugar, é preciso considerar o desejo e a disponibilidade do casal ao procurar uma ajuda terapêutica, o que o levou à decisão e o que pretende com ela.
O que ocorre em uma psicoterapia é algo novo, inesperado, único — mesmo quando as partes envolvidas estão convictas de que encontraram exatamente o que estavam buscando.
Quando duas pessoas se aproximam e formam um casal, imediatamente trocam mensagens e estímulos, em uma reciprocidade ímpar, confirmando e/ou modificando aspectos muito importantes de suas respectivas personalidades, de seus demais elos, de seu modo de viver.
Assim como um óvulo e um espermatozoide que, ao se unirem, resultam em um determinado fruto (que seria outro bem diferente caso um desses elementos não fosse o mesmo), dois indivíduos, ao se unirem, desenvolvem-se de um modo ímpar (que não seria o mesmo se um deles fosse outra pessoa).
Algo semelhante vale para a relação terapêutica. Se o terapeuta fosse outro, o processo e seus resultados seriam diferentes. Se o momento fosse outro, ainda que se reunissem as mesmas pessoas, também pouco ou nada se processaria ou resultaria igual.
O elemento surpresa, a introdução da novidade, é algo para o qual apontam vários autores atuais. Se isso é válido para todos os vínculos das pessoas, também é um ingrediente indispensável para uma boa psicoterapia.
EXERCÍCIO PODEROSO
Entre outras coisas, a relação terapêutica é um exercício vincular muito forte e poderoso, uma experiência que, internalizada, resulta no enriquecimento de outros relacionamentos, na consistência de outras alianças significativas.
Como na relação primitiva entre mãe e filho, pai e filho e como em outras relações entre pessoas efetivamente importantes para as pessoas, o vínculo terapêutico na psicoterapia de casal funciona como um espelho no qual se refletem imagens, no qual se definem contornos.
Funciona como um espaço de trocas em que o passado adquire ou desenvolve o sentido de história, examinando-se toda uma trama vincular e estabelecendo-se nexo para modos de ser, de viver e conviver.
As imagens refletidas e as alianças ressignificadas conduzem o casal a uma subjetividade mais próxima do real, mais abrangente, que traz em si maiores possibilidades de libertar, informar e construir.
A relação transferencial merece ser profundamente considerada e diretamente trabalhada naqueles momentos em que reconhecê-la e interpretá-la reduz as resistências, introduz informações novas sobre a história pessoal/vincular e abre espaço para um processo de elaboração de conflitos inconscientes compartilhados pelo casal e revividos na relação terapêutica.
LITERATURA
Escrito em uma linguagem clara, de leitura agradável, o livro “Vínculos e saúde mental” prende a atenção do leitor pela importância do tema e pelo ângulo inusitado que a psicóloga Iara de Lourdes Camaratta Anton aborda situações clínicas.
Publicada pela Sinopsys Editora, a obra dá espaço e reconhecimento aos vínculos pessoais e profissionais na preservação e/ou na recuperação da saúde mental e chama a atenção para a necessidade de que sejam valorizados para formar alianças terapêuticas verdadeiras e efetivas com os pacientes.