TFE: como trabalhar com emoções em psicoterapia?
06 de Novembro de 2024
As emoções são o novo paradigma para a psicoterapia. Depois dos avanços neurocientíficos que as descreveram como processos automáticos, carregados de significados pessoais e difíceis de serem controladas pela razão, todas as abordagens passaram a dizer que trabalham com emoções.
Para quem acompanha a terapia focada nas emoções (TFE) há algum tempo, ela não traz tantas novidades no campo da psicoterapia, pois, desde os anos 1970, vem enfatizando a importância das emoções como elementos centrais na construção de quem as pessoas são e daquilo que almejam ser.
Para aqueles que ainda não a conhecem profundamente, é quase como se fosse uma nova linguagem – não apenas falada – a ser adquirida pelo terapeuta. É a linguagem do processamento emocional, dos significados implícitos envolvidos nas experiências sentidas e que se apresentam como um senso corporificado presente nas emoções.
Inversão
Trazida ao Brasil inicialmente como uma terapia cognitiva de terceira onda, a TFE é, na realidade, muito diferente das abordagens cognitivas, sendo praticamente a inversão desses modelos, pois entende que não basta intervir cognitivamente para se mudar experiências sentidas.
Tendo raízes profundas na abordagem centrada na pessoa e também influenciada pelos trabalhos da gestalt, da focalização de Gendlin e do existencialismo, a terapia focada nas emoções se autodenomina uma terapia neo-humanista e experiencial.
Busca integrar esses modelos aos achados da neurociência afetiva, especialmente em relação à teoria contemporânea das emoções e dos processos de reconsolidação de memória.
Hoje, é uma abordagem baseada em evidências segundo a American Psychological Association e é considerada uma grande influência para outras abordagens, como a terapia do esquema, a gestalt e a abordagem centrada na pessoa contemporâneas.
Foco clínico
Ao trabalhar com emoções em psicoterapia, é essencial desenvolver clareza sobre se o foco clínico é em fazer as pessoas experienciarem suas emoções em relação ao objeto ou ao contexto que ativa as emoções ou se o foco é em ajudar o paciente a gerenciar suas próprias emoções em geral.
O trabalho terapêutico pode ser visto como pertencente a um destes dois domínios: trabalhar as emoções em relação a seus objetos – por exemplo, medo do pai ou vergonha do próprio corpo – ou trabalhar a relação do indivíduo com as próprias emoções, como a dificuldade de acessá-las ou ser sobrecarregado por elas.
Para facilitar a consciência e a aceitação da emoção e a transformação emocional, os terapeutas precisam de quatro habilidades centrais: sintonia empática ao afeto momento a momento, ajudar o indivíduo a focar em sensações sentidas corporalmente, a focar na experiência presente da emoção e a superar os bloqueios emocionais.
A fase de saída da emoção pela sua transformação ocorre quando os pacientes são capazes de acessar suas necessidades, reexperienciar o passado no presente, regular as emoções e consolidar suas experiências em uma nova narrativa.
Guia
Transformando emoções com emoções: um guia para o psicoterapeuta, traduzido para a língua portuguesa pela Sinopsys Editora, tem como autor o psicólogo canadense Leslie Samuel Greenberg, um dos criadores e principais desenvolvedores da terapia focada nas emoções.
Direcionado a psicólogos clínicos, o livro apresenta princípios e métodos para trabalhar com a emoção em psicoterapia para atingir os mecanismos internos subjacentes à ansiedade, à depressão e a outros transtornos clínicos comuns.
Os capítulos concentram-se em técnicas que ajudam os pacientes com diferentes transtornos a “chegarem” ou vivenciarem plenamente suas emoções dolorosas e desadaptativas e depois “deixarem” essas emoções por meio do acesso a emoções novas e adaptativas.