Suicídio: um pouco sobre a fundamentação teórica
04 de Setembro de 2024
Em 1897, o sociólogo francês Émile Durkheim publicou o livro Le suicide: étude de sociologie, no qual apresenta uma visão sociológica do suicídio. Em sua pesquisa, ele rejeitou todos os argumentos não sociais que poderiam explicar esse fenômeno, apresentando a consciência coletiva como entidade moral superior ao indivíduo que determina, juntamente à sociedade, o comportamento humano – o sentir, o pensar e o agir.
Para o autor, as taxas de suicídio de um país são indicadores de sua situação social e as alterações nessas taxas associam-se a problemas que afetam essa sociedade. Ele afirma que o suicídio pode ser dividido em classes, as quais estão relacionadas aos laços sociais que envolvem o indivíduo. Este se integra, envolve-se e sente-se pertencente a uma sociedade (considerando as relações sociais que o ligam ao grupo) ou regula-se nessa sociedade para pertencer a um grupo (o que envolve requisitos normativos ou morais), conforme é possível ver nas quatro classes a seguir.
Suicídio egoísta
Ocorre com pessoas com baixa integração na sociedade que estão deprimidas, isoladas ou são pertencentes a grupos não aceitos - são pessoas que ficam acima ou à margem do grupo social.
Suicídio altruísta
Ocorre com pessoas com alta integração na sociedade que muitas vezes se esquecem de si em prol de uma causa ou perdem a vida para defender/proteger indivíduos ou ideais. É o caso de camicases, homens-bomba, religiosos e militares. Nesse grupo estão incluídas pessoas que se matam por se sentirem muito culpadas após cometerem uma infração e indivíduos que se suicidam em prol de um grupo, em um ato de sacrifício.
Suicídio anômico
Envolve pessoas com baixa regulação na sociedade. Nessa categoria, estão incluídas pessoas desempregadas, divorciadas, que não acompanham as pressões da escola/sociedade, que tiveram perdas na família e que estão em situações de profunda desorientação e falta de perspectiva. Esse tipo de suicídio também tem relação direta com a desorganização social; há, por exemplo, suicídios que ocorrem quando há acentuada instabilidade econômica.
Suicídio fatalista
Envolve pessoas com alta regulação com a sociedade que são submetidas ou se submetem a regras ou controles rígidos em que não há esperança de mudança. Ocorre também com pessoas que não conseguem modificar a situação em que são inseridas, como escravos, prisioneiros, indivíduos que perderam a honra e sujeitos que lidam com desapontamentos constantes.
Várias pesquisas foram feitas a partir da teoria de Durkheim. Há também críticas à sua obra, como a da socióloga brasileira Maria Cecília de Souza Minayo, que sustenta que o autor “deixou os fatores individuais em segundo plano e que não houve uma discussão do papel do sujeito, dos significados e da intencionalidade como parte integrante do fato e do ato social”. De qualquer forma, o estudo de Durkheim tem importância até os dias de hoje.
Livro
O assunto é aprofundado em ‘Suicídio – um problema de todos: como aumentar a consciência pública na prevenção e na posvenção’, de autoria da psicóloga Karen Scavacini e publicado pela Sinopsys Editora. Cabe ressaltar que o livro não relaciona o suicídio a um evento único e que os exemplos anteriores foram apresentados com fins didáticos.
A obra traz no título sua questão principal ao afirmar que o suicídio atinge a todos com diversas intensidades e não é problema só daqueles com ideação e tentativa de suicídio e de familiares e amigos enlutados. É uma preocupação fundamental a de aumentar a conscientização pública sobre o tema.
Além de expor suas ideias, a autora procura analisar as campanhas atuais para a prevenção e posvenção do suicídio como perspectivas para informar e esclarecer a população diretamente afetada e àqueles que se aproximam do tema pela sua abrangência. Essa é a questão principal da perspectiva de Karen, que acrescentou às suas principais ideias o que ouviu de pessoas que estão ou já estiveram diretamente ligadas ao suicídio, inclusive profissionais, envolvendo questões referentes à prevenção e à posvenção.