Psicanálise: construção histórica e dias atuais

A psicanálise é um campo de atuação da psicologia e da psiquiatria voltado para a investigação da psique humana. Com origem na medicina, foi criada pelo neurologista e psiquiatra austríaco Sigmund Freud no final do século 19, tendo seu marco inicial oficializado com o livro "A interpretação dos sonhos", publicado em 1899 com a data de 1900.

Essencialmente uma teoria da personalidade e um procedimento de psicoterapia, a psicanálise influenciou várias outras correntes de pensamento e disciplinas das ciências humanas, gerando uma base teórica para uma forma de compreensão da ética, da moralidade e da cultura.

Num primeiro momento, a psicanálise era empregada em casos de neurose e psicose, mas com o tempo - e até hoje - passou a ser amplamente usada para tratamentos de transtornos mentais dos mais diversos, incluindo depressão, ansiedade e pânico.

Formado na Universidade de Viena em 1881, Freud começou a se deparar com pacientes histéricos em sua clínica médica, o que levantou questionamentos dada a limitação do tratamento convencional da medicina.

Com isso, de setembro de 1885 a fevereiro de 1886, ele fez um estágio em Paris com o neurologista francês Jean-Martin Charcot, que parecia demonstrar sucesso no tratamento de sintomas desses distúrbios através da hipnose.

Para Charcot, esses pacientes eram afetados por transtornos mentais causados por anormalidades no sistema nervoso. A ideia influenciou Freud a pensar em novas possibilidades de tratamento.

De volta a Viena, ele começou a tratar seus pacientes com sintomas de distúrbios nervosos por sugestão hipnótica, que induzia uma mudança no estado de consciência e, em seguida, conduzia uma investigação entre as conexões e condutas do paciente que pudesse estabelecer qualquer relação com o sintoma apresentado.

Na época, percebeu-se que, por sugestão do médico, era possível provocar a aparência e o desaparecimento de sintomas físicos.

No entanto Freud ainda se encontrava imaturo em sua técnica e se aliou, de 1893 a 1896, ao médico fisiologista austríaco Josef Breuer, que descobriu que era possível reduzir os sintomas da doença mental apenas pedindo aos pacientes que descrevessem suas fantasias e alucinações.

Com o uso de técnicas de hipnose, foi possível acessar memórias traumáticas com mais facilidade e, dando voz a esses pensamentos, memórias ocultas foram trazidas ao nível consciente, o que permitiu o desaparecimento dos sintomas. Essa experiência levou à publicação conjunta da obra `Estudos sobre a histeria’.

Conforme a técnica avançava, alguns pontos de discordância apareciam entre Freud e Breuer, sobretudo na ênfase que o primeiro estabelecia entre as memórias do paciente e as origens e os conteúdos sexuais da infância.

Desse modo, em 1897, eles romperam e Freud abandonou a hipnose e passou a utilizar a técnica de concentração, na qual a rememoração era feita por meio da conversação, dando voz ao paciente de forma não direcionada.

Todo esse percurso permitiu que Freud aprimorasse sua técnica psicanalítica e identificasse fenômenos mentais além dos perceptíveis pela consciência. Desde a hipnose, passando pelo método catártico, até o surgimento do método da associação livre, que acabou sendo a definitiva para ele.

Nesse método, o indivíduo trazia para a sessão seus conteúdos sem qualquer julgamento. Freud os investigava, analisava e interpretava. Usava a seu favor a atenção flutuante (conceito empregado para a técnica da escuta) na tentativa de relacionar a fala aos conteúdos submersos no inconsciente.

A partir de então, o conflito psíquico passou a ser concebido como resultante do embate entre as forças instintivas e as repressoras, sendo os sintomas a representação simbólica desse conflito inconsciente.

Essa nova forma de ver o ser humano, ajudou na melhor compreensão da mente e do comportamento das pessoas e a entender melhor a sociedade.

Até hoje, alguns conceitos da psicanálise ainda são considerados controversos, mas ela segue como uma importante referência teórica e uma das abordagens terapêuticas com maior adesão entre os profissionais da saúde mental.

Entre as correntes da psicanálise que se sobressaem na atualidade, está a lacaniana, desenvolvida pelo psiquiatra francês Jacques Lacan. Ele é considerado o único dos grandes intérpretes de Freud que procurou retornar literalmente aos textos e à doutrina freudiana.

Dessa forma, a sua teoria acabou se tornando uma espécie de revolução às avessas. Como se fosse uma substituição ortodoxa da doutrina preconizada pelo pai da psicanálise.

Lacan criou novos conceitos, além de ter criado uma técnica de análise própria a partir de uma metodologia diferente de análise do trabalho de Freud. Principalmente, em comparação a outros psicanalistas cujas teorias divergiram de seu predecessor.

Segundo ele, a psicanálise tem apenas uma interpretação possível, que é a interpretação linguística.