O que é ativação comportamental e quais seus objetivos?
07 de Agosto de 2024
A ativação comportamental pode ser definida como uma intervenção psicossocial estruturada e breve cujo objetivo é atenuar os sintomas depressivos e prevenir as recaídas a partir de modificações comportamentais.
A ideia por trás dessa abordagem é que o empobrecimento nas vivências (comportamento decorrente da depressão) impede o indivíduo de obter (e validar) as gratificações (reforços positivos) provenientes do ambiente e de resolver os problemas mantenedores do seu estado emocional.
A diminuição de reforços positivos teria como consequências: o indivíduo dirigir sua atenção para os sintomas depressivos e os pensamentos associados; não ocorrer uma busca por novas fontes de prazer; e ocorrer uma redução no repertório de comportamentos adaptativos, pois a pessoa deprimida procura fugir ou evitar a exposição a consequências aversivas de novos comportamentos.
Personalizada
Ao desenvolver um modelo de entendimento para depressão, Lewinsohn (1974) postulou que a capacidade de obtenção de reforçadores positivos está relacionada à quantidade de eventos prazerosos experienciados, à disponibilidade de reforçadores do ambiente e ao comportamento instrumental do indivíduo para gerar o reforço positivo.
Assim como Ferster (1973), Lewinsohn (1974) destacou que a evitação é um fator importante na manutenção do ciclo depressivo, pois, sem algum nível de exposição ao prazer, é pouco provável que haja uma melhora no quadro clínico do indivíduo.
Portanto, a ativação comportamental é uma abordagem personalizada por meio da qual o terapeuta não somente ajuda o paciente a aumentar seu repertório comportamental, propondo que execute atividades prazerosas de acordo com seus valores pessoais, mas também auxilia no estabelecimento de objetivos realizáveis, dividindo, quando necessário, as tarefas prescritas em partes executáveis.
Da mesma forma, tem um papel importante para a resolução dos problemas do sujeito e para a manutenção da sua motivação durante todo o tratamento.
Contingências
Na ativação comportamental, a terapia deve identificar e modificar as contingências mantenedoras dos comportamentos depressivos a fim de que os ganhos sejam mantidos e novos episódios de depressão sejam prevenidos.
Durante a ativação comportamental, vários pacientes, ao perceberem que conseguem fazer as atividades propostas e obter prazer com elas, sentem-se mais autoeficazes e, em decorrência, aumentam seu nível de atividade.
O contrário também pode ocorrer: no afã de serem bem-sucedidos, os pacientes podem fracassar nesse intento. Nesse caso, o terapeuta deve lembrar que o objetivo da ativação comportamental é testar as ideias negativistas e aumentar gradualmente o volume de atividades praticadas, aprimorando o nível de funcionamento dos pacientes, de forma que tenham menos atitudes disfuncionais e mais gratificação.
Técnicas
A ativação comportamental também contempla o uso de técnicas de resolução de problemas, pois, durante a execução das atividades, podem surgir novos desafios que devem ser enfrentados.
Um dos motivos de a ativação comportamental ser uma das abordagens de escolha no atendimento da depressão é o fato de os pacientes deprimidos, em graus moderados e graves, poderem ter dificuldades com as técnicas de reestruturação cognitiva, peças-chave no modelo efetivo para o tratamento da depressão de Beck.
Para que ocorra o processo de reestruturação cognitiva, com a modificação dos pensamentos e das crenças disfuncionais, é necessária capacidade cognitiva preservada, o que pode não estar presente no contexto da depressão.
Depois do domínio das técnicas comportamentais, no entanto, deverão ser utilizadas as técnicas cognitivas visando à modificação das crenças nucleares e intermediárias e dos pensamentos automáticos dos pacientes com depressão.
Caso eles tenham dificuldades na esfera comportamental novamente, pode-se retornar a utilizar a ativação comportamental durante o processo psicoterápico.
Ferramenta
Ao identificar e modificar as contingências mantenedoras dos comportamentos depressivos ou exagerados (no modo de se relacionar com substâncias, sexo, jogos, computador, compras, comida, etc.), o terapeuta ajuda o paciente não apenas a aumentar seu repertório de atividades prazerosas, mas também a modificar seu estilo de vida.
Para isso, o ‘Baralho da ativação comportamental: combatendo a depressão e resgatando o prazer de viver sem exageros’ é um valioso recurso para o atendimento de dois grupos de pacientes frequentemente encontrados na clínica: os que sofrem com depressão e aqueles com transtornos do exagero.
São apresentadas 200 cartas com mais de 300 atividades geradoras de prazer para a ativação comportamental. Ao elaborar a programação de atividades semanal e colocá-la em prática, o paciente poderá aumentar sua autoeficácia, seu grau de prazer e satisfação e fazer um movimento importante em direção a um estilo de vida mais feliz.
De autoria da psicóloga Renata Brasil Araujo e publicada pela Sinopsys Editora, a ferramenta é destinada ao uso de psicólogos que trabalham com pacientes depressivos ou com transtornos do exagero nos mais diferentes contextos, como consultórios privados, unidades de internação hospitalar, fazendas de recuperação, comunidades terapêuticas, ambulatórios, hospitais-dia e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).