Surdocegueira: desafios e possibilidades

A surdocegueira, também chamada de perda sensorial dupla ou comprometimento multissensorial, é o conjunto simultâneo da perda auditiva e visual em diferentes graus. Consequentemente, afeta significativamente a comunicação, a socialização, a mobilidade, a autonomia, a vida diária e a aprendizagem dos indivíduos com essa condição.

Nesse sentido, a sociedade como um todo precisa se conscientizar da existência da surdocegueira, pois, em geral, as pessoas que têm essa condição são identificadas apenas em relação à cegueira ou à surdez. As duas deficiências juntas, no entanto, exigem mecanismos diferenciados para a inclusão e a acessibilidade de surdocegos.

A surdocegueira é um universo totalmente diferente e pouco explorado que exige conhecimento de técnicas específicas para que se possa desbravá-lo com habilidade e eficiência. Por esse motivo, existe a necessidade de divulgação da condição e dos métodos de comunicação utilizados pelos portadores da mesma, além de expor o trabalho do guia-intérprete como essencial para a construção da inclusão social.

Embora os desafios sejam inúmeros, a comunicação e a mobilidade podem ser consideradas as principais barreiras a serem transpostas pela comunidade surdocega. É essencial, portanto, a promoção da inclusão desses indivíduos, para que suas possibilidades se ampliem e eles possam demonstrar suas potencialidades, conquistarem autonomia e terem participação efetiva na sociedade.

A inclusão ajuda os surdocegos a saírem do isolamento e faz com tenham acesso à informação, adquiram conhecimento, interajam com o mundo e as demais pessoas à sua volta e se sintam respeitados.

Com dois sentidos sensoriais importantes afetados, o surdocego pode ter dificuldade para desenvolver a compreensão do ambiente e de ser compreendido. Dependendo do nível de comprometimento da visão e audição, o contato do indivíduo com o mundo exterior pode ser bastante restritivo, sendo necessário o desenvolvimento de diferentes maneiras de comunicação e interação.

O modo como cada deficiência afetará o aprendizado de tarefas simples e o desenvolvimento da comunicação do indivíduo surdocego varia de acordo com o grau de comprometimento de sua visão e audição associado aos estímulos que essa pessoa vai receber ao longo da vida.

O indivíduo que tem surdocegueira, portanto, necessita de um atendimento educacional diferente, por se tratar de uma condição com características específicas.

Mesmo sendo surdocega, a pessoa tem capacidade de vencer os obstáculos e as limitações por meio da comunicação e do uso da linguagem. Dessa forma, um novo mundo pode ser descoberto por ela.

Para se chegar até essa condição, no entanto, um importante avanço ainda é necessário na área educacional, uma vez que há carência de profissionais especializados e de recursos de tecnologia assistiva.

O ingresso no mercado de trabalho é outro grande desafio enfrentado pela comunidade surdocega, que, por sua condição, não encontra muitas portas abertas para poder mostrar suas potencialidades profissionais.

As dificuldades de acesso em áreas públicas também estão entre os grandes desafios enfrentados pelas pessoas portadoras de surdocegueira. Inclusive as barreiras arquitetônicas, uma vez que as cidades são desniveladas, as calçadas têm ondulações e não são retas.

Constata-se, portanto, que muitas ações ainda precisam ser colocadas em prática para que os surdocegos sejam incluídos na sociedade em que vivem e possam participar ativamente de todos os processos que os cercam.

Também é fundamental o aumento do número de guias-intérpretes qualificados como mediadores entre pessoas surdocegas e o meio ao qual pertencem, para que elas possam compreender de maneira clara o contexto situacional e exercer o seu papel de cidadãs.

No Brasil, há instituições que promovem a inclusão social de pessoas com surdocegueira. Entre elas, estão a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), a Associação Brasileira de Pais e Amigos dos Surdocegos e Múltiplos Deficientes Sensoriais (Abrapascem), a Associação Brasileira de Surdocegueira (Abrasc), a Associação Educacional para Múltipla Deficiência (Ahimsa) e o Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial (Grupo Brasil).