Conheça a Clínica do Apego: uma abordagem focada no afeto

O campo de atuação dos profissionais da saúde mental cada vez mais se expande para além das fronteiras tradicionais. Nesse contexto, a clínica do apego, uma abordagem terapêutica baseada na Teoria do Apego e focada no afeto, amplia seus horizontes.

Pioneiro nos estudos da Teoria do Apego, o psiquiatra inglês John Bowlby encontrou evidências de que os seres humanos de todas as idades são mais capazes de desenvolver suas habilidades quando estão seguros de que podem contar com a ajuda de uma ou mais pessoas caso surjam dificuldades.

Sendo assim, pacientes cujas limitações se remetem ao fato de nunca terem formado apegos no começo da vida, seja com pais ou cuidadores, podem formar um vínculo pela primeira vez na terapia, com o terapeuta. Da mesma forma, indivíduos cuja patologia decorre de apegos iniciais exagerados podem buscar refutá-los.

Um terapeuta capacitado pode criar esse vínculo, desenvolver e acessar redes neurais adaptativas positivas e melhorar os sintomas dos seus pacientes. Proporcionando-lhes, assim, a chance de reconhecerem a maneira como suas primeiras experiências interferiram em sua capacidade de alcançar a independência.

Para muitas pessoas, sejam crianças, adolescentes ou adultos, a relação terapêutica é o primeiro passo para a reconstrução e reparação de uma relação segura. Por meio dela, é possível desenvolver equilíbrio emocional e uma visão mais otimista da vida, desativando sistemas de sobrevivência prejudiciais.

Quando o paciente consegue se apegar ao terapeuta, observa-se o efeito da base segura. Dessa maneira, o indivíduo pode se tornar capaz de correr riscos, trabalhar seus distúrbios mentais e praticar novos padrões de comportamento.

No caso das crianças, cujas dificuldades de apego podem ser mais evidentes do que as dos adultos, os terapeutas representam figuras consistentes e confiáveis que podem produzir um sentido de entusiasmo e autoestima nelas.

A clínica do apego implica aproximação e sensibilidade com o outro, evocando a responsabilidade e o compromisso do profissional para com o paciente que procura ajuda. Saber ouvi-lo possibilita que ele sinta que é importante, aumentando a confiança no terapeuta e, consequentemente, facilitando a formação do vínculo.

Essa ligação com o paciente caracteriza-se como elemento importante para o trabalho desenvolvido pelos profissionais de saúde, para que o enfoque da terapia não se detenha no distúrbio mental e na mecanização do atendimento.

Tal relação terapêutica se constrói por meio do compartilhamento, da troca e do diálogo entre as partes envolvidas.

"A clínica do apego: fundamentos para uma psicoterapia afetiva, relacional e experiencial" é título de livro lançado este ano pela Sinopsys Editora de autoria do psicólogo e psicoterapeuta brasileiro Marco Aurélio Mendes. Ele é trainer, supervisor certificado e terapeuta certificado reconhecido pela Sociedade Internacional de Terapia Focada nas Emoções (ISEFT).

Embora a Teoria do Apego venha se destacando nas últimas décadas, ela não é extensivamente ensinada nas universidades. Dessa forma, muitos profissionais, no início de sua prática clínica, se deparam com dificuldades na utilização de um modelo explicativo do desenvolvimento, valendo-se de teorias defasadas e distantes do conhecimento oriundo da ciência atual.

Por isso, a obra de Marco Aurélio Mendes reúne o que há de mais atual sobre a Teoria do Apego, sintetizando estudos desenvolvidos no Brasil e em outros países nos últimos 50 anos.

É dividida em duas partes, teórica e prática, em que são apresentadas as possíveis aplicações da Teoria do Apego nas intervenções clínicas do dia a dia. Trata-se de uma leitura essencial para estudantes, psicoterapeutas e outros profissionais da área da saúde interessados em tornar seu atendimento mais afetivo, flexível e significativo.