Você sabe quais são as terapias contextuais?
23 de Março de 2023
Importantes na psicoterapia moderna, as terapias contextuais, ou terceira onda das terapias cognitivo-comportamentais, vêm expandindo o foco de apenas reduzir sintomas, buscando desenvolver habilidades que colaborem na melhora da qualidade de vida das pessoas.
Destacando-se no cenário da psicologia a partir dos anos 1990, as terapias contextuais vêm demonstrando eficácia na prevenção e no tratamento dos mais diferentes transtornos mentais e englobam diversas abordagens de intervenção.
TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA
Uma delas é a terapia comportamental dialética, mais conhecida como DBT (do inglês dialectical behavior therapy). Desenvolvida pela psicóloga norte-americana Marsha Linehan, foi originalmente concebida para tratar pessoas cronicamente suicidas com transtorno da personalidade borderline (TPB).
Considerando que as pessoas que sofrem desse transtorno têm alto descontrole emocional, a terapia comportamental dialética foca em estabelecer uma relação de confiança entre o terapeuta e o paciente e se divide em módulos de psicoterapia individual e grupo de habilidades, entre outros.
Uma das principais abordagens das terapias contextuais, a DBT atualmente tem sua efetividade comprovada também no tratamento de uma série de outros transtornos, como: alimentares, relacionados ao uso de substâncias, depressivo maior, humor bipolar, estresse pós-traumático, do déficit de atenção/hiperatividade e desafiador de oposição.
TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO
Mindfulness (atenção plena) e aceitação são a base da terapia de aceitação e compromisso (ACT, pronunciada como uma palavra única, do inglês acceptance and commitment therapy), outra das terapias contextuais mais representativas.
Criada pelo psicólogo norte-americano Steven Hayes com a intenção de integrar as terapias cognitiva e comportamental, visa a estimular o paciente a aceitar situações e experiências negativas.
Entendendo que, ao identificar as experiências indesejadas, o indivíduo adquire a capacidade de afastá-las, a ACT costuma ser adotada no tratamento de depressão e transtornos de ansiedade.
Leva esse nome por causa de suas propostas centrais: aceitação da realidade e das reações emocionais e comportamentais, escolha de uma direção de acordo com os valores do indivíduo e comprometimento com a mudança desejada.
PSICOTERAPIA ANALÍTICA FUNCIONAL
Por sua vez, a psicoterapia analítica funcional (FAP, do inglês functional analytic psychotherapy), proposta pelos psicólogos norte-americanos Mavis Tsai e Robert Kohlenberg, provocou certa revolução na análise comportamental da relação terapêutica.
É fundamentada em uma visão de psicologia e influência social que integra a ciência comportamental contextual com a crescente ciência da conexão social, incluindo como as conexões sociais afetam o funcionamento psicológico.
Sendo assim, direciona o foco de trabalho sobre a relação terapêutica como meio de proporcionar mudança nas queixas trazidas ao consultório. Entende-se que o modo como o cliente age, fala e se coloca na sessão pode ser semelhante ao modo como ele o faz na sua vida cotidiana.
Os comportamentos que ocorrem ao vivo e a cores com o terapeuta e que têm relação com o motivo que levou a pessoa a buscar terapia são chamados de comportamentos clinicamente relevantes (CCRs).
Esses comportamentos são o foco principal da FAP, ou seja, o processo de mudança é essencialmente influenciar os CCRs à medida que ocorrem no processo terapêutico.
TERAPIA DO ESQUEMA
Já a terapia do esquema (TE) surgiu a partir da preocupação do psicólogo norte-americano Jeffrey Young com pacientes que tinham dificuldades interpessoais de longa duração relacionadas a transtornos da personalidade.
A TE tem como uma das bases a teoria do apego ou da vinculação do psicanalista britânico John Bowlby. Segundo ele, um desenvolvimento social e emocional saudável está vinculado ao estabelecimento de um relacionamento entre a criança e um adulto cuidador.
Sem o atendimento das necessidades emocionais na infância, o indivíduo pode experienciar rejeição, ter sua autonomia prejudicada, entre outros fatores, desenvolvendo transtornos mentais.
Sendo assim, a terapia do esquema ajuda o paciente a encontrar a raiz de suas patologias empregando técnicas de imagens, vivenciais e interpessoais, além de estratégias de reparentalização limitada, entre outras.
TERAPIA DO ESQUEMA EMOCIONAL
Similar à TE, a terapia do esquema emocional (TEE), desenvolvida pelo psicólogo estadunidense Robert Leahy, tem como meta que o paciente não só reconheça as fontes dos seus transtornos, mas entenda o papel fundamental das emoções em sua vida.
Nessa abordagem das terapias contextuais, o terapeuta trabalha com o indivíduo a habilidade de conviver com as suas emoções sem culpa, surgindo dessa aceitação ferramentas para enfrentar cenários adversos.
TERAPIA FOCADA NA COMPAIXÃO
Na terapia focada na compaixão (TFC), o grande objetivo é ajudar o indivíduo que tem depressão ou psicose a superar a autocrítica e entender que é merecedor de amor e carinho.
Formulada pelo psicólogo britânico Paul Gilbert, a TFC desenvolve o treino da mente compassiva, envolvendo atividades específicas que buscam influenciar na regulação do afeto.
O profissional pode, por exemplo, solicitar ao paciente que escreva uma carta afetuosa para si mesmo, visto que um pensamento autocompassivo permite uma visão realista do ‘eu’ ao mesmo tempo que promove crescimento pessoal.
TERAPIA COGNITIVA PROCESSUAL
Outra das terapias contextuais, a terapia cognitiva processual (TCP), criada pelo psiquiatra brasileiro Irismar Reis de Oliveira, é indicada principalmente para tratar transtornos da personalidade.
Tem como fundamentos os mesmos da terapia cognitiva (TC) do psiquiatra norte-americano Aaron Beck. Contudo possui conceituação própria, assim como suas próprias técnicas, o que a torna uma abordagem distinta quanto à modificação das crenças nucleares dos pacientes, especialmente as que se referem a si mesmos.
Uma das principais técnicas da TCP, o registro de pensamentos baseado no processo (RPBP) foi desenvolvido como estratégia estruturada para modificar as crenças nucleares.
Apresenta-se como uma analogia com a lei na qual o terapeuta engaja o paciente na simulação de um processo judicial. A inspiração para o desenvolvimento dessa técnica veio do romance surreal ‘O processo’, do escritor tcheco Franz Kafka. Nele, o personagem Joseph K., por razões jamais reveladas, é preso e executado sem saber de que crime é acusado.
A base racional para a proposta da terapia cognitiva processual é que ela pode ser útil em fazer com que os pacientes se tornem conscientes das crenças sobre si mesmos (autoacusações) e, diferentemente do processo de Joseph K., engajem-se em um processo construtivo para desenvolver crenças mais positivas e funcionais.
TERAPIA METACOGNITIVA
De autoria do psicólogo britânico Adrian Wells, a terapia metacognitiva busca remover dos pacientes modelos de processamento disfuncionais que os mantêm presos a pensamentos negativos durante um longo período de tempo.
Nessa abordagem, o terapeuta leva o indivíduo a refletir sobre seu pensamento para entender como é o processo de aprendizagem, possibilitando que ele compreenda como seus pensamentos influenciam seus comportamentos, moldando sua personalidade.
A partir disso, o profissional propõe novas estratégias, visando à reconstrução da capacidade da pessoa de reformular suas ideias de modo a evitar sofrimentos.
TERAPIA DE MODIFICAÇÃO DO VIÉS ATENCIONAL
Também entre as terapias contextuais, está a terapia de modificação do viés atencional (TMVA). Tem como objetivo dissociar certas experiências de eventos traumáticos para remover do paciente as sensações ligadas ao medo ou à dependência.
Adotada principalmente no tratamento de dependentes químicos, a TMVA busca reprogramar a reação do indivíduo ao ter contato com o que lhe é prejudicial.