Você sabe o que é abordagem transdiagnóstica?
30 de Maio de 2023
A abordagem transdiagnóstica em psicoterapia representa um novo paradigma quando se trata de compreender e intervir em transtornos mentais. Isso porque, em vez de focar nas especificidades de cada uma das patologias, se concentra em aspectos comuns entre elas os quais influenciam sua origem e/ou manutenção.
Sendo assim, a abordagem transdiagnóstica é uma alternativa ao sistema categórico tradicional em psicologia, pois busca entender os processos comuns compartilhados pelas diferentes psicopatologias e não enfatizar sua diferenciação em categorias fechadas, a exemplo do ‘Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM)’.
Essa nova tendência questiona um sistema de classificação rígido, permitindo flexibilizar a sua utilização de forma a oferecer diagnósticos mais acertados e intervenções mais eficazes.
ANALOGIA
Nos últimos anos, o desejo de que a psicologia fosse considerada uma disciplina científica respeitada levou-a a adotar uma terminologia e um modelo de trabalho semelhantes aos utilizados na medicina.
Dessa forma, estabeleceu-se uma analogia entre as doenças abordadas na área médica e os transtornos mentais. Isso levou a uma psicologia clínica totalmente medicalizada, o que não condiz com a natureza dos distúrbios psicológicos.
A razão pela qual o modelo biomédico não é considerado apto para ser aplicado na psicologia tem a ver com o tipo de entidades com as quais a medicina e a psicologia trabalham respectivamente.
Nas ciências naturais, são estudadas as entidades fixas, que se dão independentemente das interpretações. Já na psicologia, são estudadas as entidades interativas, que estão sujeitas à interpretação subjetiva. Sendo assim, as realidades com as quais lida estão sujeitas à influência e ao contexto.
COMPLEXIDADE
Se, por um lado, a rotulagem utilizada na psicologia é útil porque permite organizar a realidade e facilitar a comunicação, por outro lado, não se adapta na íntegra à complexidade dos transtornos mentais.
Muitas vezes, o sofrimento humano não se enquadra em nenhuma categoria diagnóstica particular ou se enquadra apenas parcialmente. No entanto, isso não significa que não seja real e não deva ser tratado.
Nesse contexto, a abordagem transdiagnóstica parece se adequar melhor à natureza das psicopatologias. A partir dela, considera-se que a maioria dos transtornos mentais compartilha uma série de processos comuns que geram e/ou mantêm o problema.
A partir dessa visão, busca-se estabelecer conexões entre os diferentes sintomas e diagnósticos a partir de dimensões mais gerais.
A abordagem transdiagnóstica permite compreender os mecanismos emocionais e comportamentais subjacentes aos problemas psicológicos de forma a adotar uma visão mais holística da patologia e flexibilizar o processo terapêutico.
NOVOS PROTOCOLOS
O modelo transdiagnóstico funciona a partir da terapia cognitivo-comportamental e procura desenvolver novos protocolos de intervenção que, em vez de se orientarem para perturbações específicas, procuram integrar aquelas técnicas adequadas a todo um conjunto de problemas emocionais.
Em geral, as intervenções que estão dentro do modelo transdiagnóstico são caracterizadas por foco em processos cognitivos, comportamentais e fisiológicos compartilhados por diferentes problemas psicológicos. Além disso, permitem que tratamentos mais personalizados sejam desenhados e adaptados a cada caso.
FRAGILIDADES
Embora a abordagem transdiagnóstica ofereça inúmeras vantagens, ela tem fragilidades que ainda precisam ser sanadas com o tempo. Uma delas é explicar por que as pessoas apresentam diferentes manifestações psicopatológicas embora compartilhem processos psicológicos.
Além disso, na prática clínica, usar as dimensões gerais comuns entre as patologias é mais complicado do que usar critérios diagnósticos tradicionais. Assim, pode tornar-se especialmente difícil avaliar as manifestações clínicas de cada indivíduo.