Terapia do esquema para crianças e adolescentes
07 de Março de 2024
A terapia do esquema para crianças e adolescentes (TE-CA) vem ganhando destaque nos consultórios de psicologia e demais serviços de saúde mental por suas altas taxas de sucesso na aplicação com pacientes que têm dificuldades mais graves, crônicas e arraigadas e não respondem às abordagens de primeira linha.
Integrativa, sistemática e estruturada, a terapia do esquema (TE) em si começou como uma extensão da terapia cognitivo-comportamental (TCC) a partir da preocupação do psicoterapeuta norte-americano Jeffrey Young com pacientes que apresentavam problemas interpessoais de longa duração relacionados a transtornos da personalidade.
Com o tempo, adquiriu uma identidade própria e, dentro das terapias contextuais, tem demonstrado efetividade em transtornos resistentes a outras abordagens da psicologia. Também foi estendida às demais modalidades terapêuticas além da individual, como em grupos, de casal e infantojuvenil.
Crenças desadaptativas
Os objetos de estudo e intervenção da terapia do esquema são as crenças desadaptativas que surgem na infância chamadas de esquemas iniciais desadaptativos (EIDs).
Os EIDs são fruto da interação entre o temperamento pessoal com um ambiente que não atende às necessidades emocionais básicas da pessoa, como afeto e segurança, e marcam emoções e comportamentos disfuncionais ou autodestrutivos.
São padrões de sentimentos, percepções e ações em relação a situações da vida encontrados em um nível mais profundo da cognição, ligados a questões instintivas e inconscientes. Eles medeiam o aparecimento e a manutenção de padrões problemáticos complexos e duradouros.
Podem ser identificados quando alguém reage impulsivamente à determinada vivência sem ter controle sobre o que faz ou sem compreender o próprio comportamento. Isso acontece porque situações do presente guardam ligações inconscientes com o passado.
Escola alemã
Desenvolvida pela escola alemã, a terapia do esquema para crianças e adolescentes é um campo de atuação amplo e tem como objetivo primordial a modificação de crenças desadaptativas na infância e adolescência, procurando promover mudanças duradouras nas respostas emocionais e comportamentais dos pacientes.
Embora a TE-CA tenha os mesmos princípios básicos do tratamento com os adultos, os aspectos relacionados ao desenvolvimento afetivo, cognitivo, emocional, social e moral exigem adaptações técnicas que respeitem as especificidades de cada faixa etária, como o desenvolvimento cognitivo.
Também é essencial que o profissional da saúde considere o fato de que o público infantojuvenil geralmente não inicia o processo terapêutico por vontade própria, mas é levado ao psicólogo por algum problema que nem sempre percebe como desadaptativo.
Muitas vezes é encaminhado à terapia porque seu comportamento prejudica o funcionamento de determinada instituição, como a família ou a escola, por exemplo. Além disso, não tem o controle sobre o início e/ou término do processo terapêutico.
Devido ao fato de que crianças e adolescentes têm pouco ou nenhum controle sobre seu tratamento, cabe ao terapeuta motivar ao máximo o envolvimento desses pacientes com a psicoterapia.
Combinação
Na prática, a TE-CA é a combinação de um modelo de desenvolvimento baseado na interação entre ambiente e genética com um arsenal interventivo que se baseia em técnicas cognitivas, comportamentais e vivenciais que visam melhorar a qualidade relacional dos pacientes e também entre pais e filhos.
Inclusive há uma ênfase em todas as publicações da escola alemã sobre a necessidade da colaboração dos pais ou outros responsáveis na terapia do esquema para crianças e adolescentes.
Valor inestimável
O valor de se promover cognições adaptativas na infância e adolescência é inestimável, pois o bom desenvolvimento afetivo-cognitivo é um fator protetivo importante. Por sua vez, crenças desadaptativas mantidas desde cedo tornam-se fatores predisponentes de vários transtornos mentais ao longo de todo ciclo vital da pessoa.
Por isso, o uso da terapia do esquema para crianças e adolescentes tem sido cada vez mais valorizada especialmente no âmbito dos diagnósticos precoces, visando tratamentos mais eficazes, e da prevenção de distúrbios psicológicos na vida adulta.
Coleção de livros
Por meio da metáfora das profundezas do oceano e seus mistérios, a coleção ‘No fundo do mar com os modos esquemáticos’, da Sinopsys Editora, visa ajudar terapeutas a entenderem e trabalharem os modos esquemáticos que podem aparecer no atendimento ao público infantojuvenil.
De autoria dos psicólogos Bruno Luiz Avelino Cardoso e Ana Flávia Azevedo Lima, são seis livros (um manual e cinco histórias) dentro de um box. O material é direcionado a terapeutas que trabalham com pacientes de 5 a 15 anos.
As histórias atraem o interesse de crianças e adolescentes com o tema do fundo do mar. Além disso, dividem o trabalho com modos esquemáticos de maneira didática e lógica, facilitando o plano de tratamento ao psicólogo. Cada categoria de modos pode ser explorada de maneira detalhada com o público infantojuvenil nas diversas fases da terapia.
“Excelente ferramenta para profissionais utilizarem na prática clínica com crianças e adolescentes e em outros cenários da intervenção, como escolas e demais contextos sociais”, afirma o psicólogo alemão Christof Loose, criador da TE-CA. É ele quem assina a apresentação da coleção.