Terapia cognitivo-comportamental para idosos com depressão
04 de Julho de 2024
Ao longo do envelhecimento, é provável que o idoso tenha que lidar com eventos estressores típicos dessa etapa, tais como perda da funcionalidade, doenças crônicas, morte de entes queridos, mudanças de papeis ocasionadas pela aposentadoria e questões existenciais relacionadas à finitude da vida.
Esses eventos exigem habilidades de enfrentamento e de adaptação, que, quando ausentes, desfavorecem o bem-estar do indivíduo, podendo levá-lo a experimentar sintomas de depressão.
Nesse contexto, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) aparece como uma modalidade de tratamento não farmacológico que tem se mostrado eficaz na remissão de sintomas depressivos na população idosa.
Uso da abordagem
Entretanto, o uso da abordagem com esse público ainda não é completamente explorado no Brasil basicamente porque, muitas vezes, ela não é oferecida como opção ou disponibilizada facilmente ao idoso com diagnóstico de depressão ou não é buscada por ele.
Outra questão importante se refere à formação do psicoterapeuta para trabalhar com a terceira idade. Nesse sentido, não basta ter apenas uma formação clínica. É preciso contar com conhecimentos da gerontologia que devem ser agregados à prática psicoterapêutica.
Logo, nem sempre o terapeuta está capacitado para conduzir a intervenção com idosos, pois a terapia cognitivo-comportamental requer algumas adaptações para ser aplicada de maneira apropriada nessa população.
Características
A TCC é um tratamento estruturado com características mais diretivas, além de pressupor uma postura ativa e colaborativa do terapeuta e do cliente, que trabalham juntos em direção ao cumprimento de objetivos pré-determinados.
No entanto, existem algumas características da abordagem que precisam ser levadas em conta quando aplicada à população idosa.
Por exemplo, existem evidências de que idosos depressivos respondem melhor quando o tratamento é estruturado num número maior de sessões, de16 a 20, a depender da rapidez com que o cliente é capaz de aprender as estratégias e habilidades que são ensinadas.
Além disso, existem evidências de que a TCC com idosos depressivos é mais eficaz quando há treino especializado do terapeuta e quando o tratamento é administrado em formato individual.
Com relação ao grau da depressão, também há evidências de que idosos com diagnóstico de depressão leve a moderada respondem melhor à abordagem do que os diagnosticados com depressão grave.
Idosos com diagnóstico de depressão grave geralmente precisam fazer uso combinado de medicamento para responderem melhor à terapia cognitivo-comportamental.
Multidisciplinar
Outra característica importante da TCC aplicada a idosos com depressão é que, geralmente, esse tratamento ocorre num contexto multidisciplinar, em que o paciente recebe, também, intervenções de médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, educadores físicos, etc.
Logo, uma característica importante do psicólogo que trabalha com esse público é que apresente habilidades para discutir com uma equipe multiprofissional informações que sejam relevantes para o bem-estar geral do cliente.
Além disso, um conhecimento sobre leis, políticas públicas e serviços especializados disponíveis para a população idosa é imprescindível para que o terapeuta esteja apto a fazer os encaminhamentos necessários e buscar alternativas para superação das dificuldades identificadas na terapia.
Livro
Este e outros assuntos são aprofundados no livro ‘Terapias cognitivo-comportamentais com idosos’, organizado pelos psicólogos Eduarda Rezende Freitas, Altemir José Gonçalves Barbosa e Carmem Beatriz Neufeld e publicado pela Sinopsys Editora.
A obra é destinada a especialistas e estudantes de psicologia do envelhecimento, de psicologia clínica e de terapias cognitivo-comportamentais.
Nela, estão refletidas as mudanças socioculturais, populacionais, históricas e epidemiológicas as quais mudaram a face das formas de conviver, das categorias etárias, das famílias, da velhice, das instituições sociais e da própria psicologia.