Terapia cognitiva processual como abordagem preventiva nas escolas

Crianças e adolescentes têm acesso limitado a diagnósticos e a opções de tratamento apropriados quanto à saúde mental. Assim, o treinamento cognitivo processual em grupo (TCP-G) foi desenvolvido como uma abordagem universal preventiva alternativa dentro da terapia cognitiva processual (TCP). O objetivo é modificar as crenças nucleares dos jovens no ambiente escolar.

Sabendo que tais deficiências relacionadas ao atendimento na área da saúde mental podem resultar em consequências prejudiciais também na vida adulta, os programas de prevenção em sala de aula podem ser vistos como uma solução viável.

No entanto, existem desafios nesse contexto, como engajar professores e alunos, encontrar horários nas agendas dos educadores e lidar com a diversidade e as dificuldades psicossociais.

Além disso, evidências modestas em favor dos programas de prevenção e intervenção precoce nas escolas estão disponíveis.

Isso é mostrado por revisões sistemáticas de programas orientados à sala de aula com foco em depressão e ansiedade na juventude, somadas a inúmeras limitações metodológicas, resultados heterogêneos, acompanhamento limitado e falta de grupos de controle.

Ademais, alguns estudos sugerem que os benefícios iniciais dos programas de prevenção não são mantidos ao longo do tempo e outros recomendam fazer uma consideração cuidadosa e uma investigação adicional antes da ampla implementação de tais programas de intervenção.

E, até onde se sabe, não existem estudos voltados à modificação das crenças de crianças e adolescentes.

Nesse contexto, o TCP-G foi desenvolvido como uma abordagem de 18 sessões e introduzido para adolescentes de 11 a 17 anos em sala de aula. É apresentado em quatro estágios: detetive da mente, advogado da mente, juiz da mente e mestre da mente.

No primeiro estágio, os alunos aprendem sobre o modelo cognitivo, as distorções cognitivas e o registro do pensamento, referindo-se a esse último como a lente do detetive da mente.

Já no segundo estágio, os alunos fazem o role-play como advogados em um julgamento, avaliam e mudam a crença nuclear negativa, conceituada como autoacusação, por meio do registro de pensamentos baseado no processo (RPBP).

No terceiro estágio (juiz da mente), os estudantes processam o promotor abusivo (vozes internas críticas) e adquirem consciência dos processos metacognitivos.

E, por fim, no quarto estágio (mestre da mente), os alunos são apresentados ao role-play consensual (RPC), uma técnica para tomada de decisões com a qual aprendem a selecionar e a desenvolver comportamentos assertivos e éticos.

A terapia cognitiva processual parece ser distintiva no sentido de expandir-se para essa população etária, que necessita de opções adequadas de tratamento preventivo.

Dividido em duas partes, teórica e prática, o livro "Terapia cognitiva processual", de autoria do psiquiatra brasileiro Irismar Reis de Oliveira, criador da TCP, explora os princípios da abordagem, explica as técnicas desenvolvidas ao longo de sua implementação para mudar as cognições disfuncionais e atua como um guia conciso de suas características distintivas.

Tem como público-alvo psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, psicoterapeutas e outros profissionais atuantes na área da saúde mental.

Publicada pela Sinopsys Editora, a obra faz parte da série "Características distintivas", que convida os mais importantes clínicos e teóricos das principais terapias entre as terapias cognitivo-comportamentais a destacarem as características fundamentais das abordagens que utilizam.