O que é a psicoterapia analítica funcional (FAP)?
20 de Janeiro de 2023
A psicoterapia analítica funcional (FAP, do inglês functional analytic psychotherapy) trata da criação de relações terapêuticas em que o profissional se relaciona hábil e estrategicamente com os clientes para criar um contexto de mudança. Enquanto muitas relações mudam vidas, a relação terapêutica visa a mudar vidas de modo terapêutico.
A FAP é fundamentada em uma visão de psicologia e influência social que integra a ciência comportamental contextual (CBS, do inglês contextual behavioral science) com a crescente ciência da conexão social, incluindo como as conexões sociais afetam o funcionamento psicológico.
Sendo assim, a abordagem direciona o foco de trabalho sobre a relação terapêutica como meio de proporcionar mudança nas queixas trazidas ao consultório. Entende-se que o modo como o cliente age, fala e se coloca na sessão pode ser semelhante ao modo como ele o faz na sua vida cotidiana.
Os comportamentos que ocorrem ao vivo e a cores com o terapeuta e que têm relação com o motivo que levou a pessoa a buscar terapia são chamados de comportamentos clinicamente relevantes (CCRs). Esses comportamentos são o foco principal da FAP.
PROCESSO
De muitas maneiras, a terapia é um processo: uma série de eventos que se desenrolam entre duas pessoas que se influenciam uma à outra de maneira extremamente sutil. Uma respiração, um suspiro ou um desvio de olhar podem comunicar mais do que um longo fluxo de palavras.
E justamente porque esse processo de influência mútua é muitas vezes sutil, rápido, automático e efêmero — ou tão estendido ao longo do tempo que é difícil conectar os pontos — é fácil perder o que realmente está acontecendo no momento.
É fácil ignorar que a batalha que está acontecendo no aqui e agora, em sessão, é geralmente o que acontece em outras situações da vida de um cliente. Também é fácil ignorar os pequenos e hesitantes momentos de novas possibilidades em que mudanças profundas possam se enraizar.
A psicoterapia analítica funcional é justamente sobre desacelerar, sintonizar esse processo e perceber que interação é sobre terapeuta e paciente. Ela trata de examinar o pessoal e o interpessoal por meio de princípios gerais de aprendizagem, reconhecendo que nenhum conjunto de princípios sobrevive inteiramente ao contato com a vida real.
A postura da FAP é que fazer a devida diligência no processo terapêutico também requer do terapeuta conhecer os seus pontos cegos, passando pela sua vulnerabilidade, assumindo riscos e expressando o que sente – não de modo imprudente, mas estratégico.
REVOLUÇÃO
Ao ser proposta pelos psicólogos norte-americanos Mavis Tsai e Robert Kohlenberg na década de 1980, a psicoterapia analítica funcional provocou certa revolução na análise comportamental da relação terapêutica.
A explicitação dos processos presentes na interação terapeuta-cliente, bem como suas decorrências, ofereceu aos profissionais melhor compreensão do processo e os ajudou a construírem instrumentos para atuar nesse campo de forma mais segura e eficiente.
Além disso, inúmeras pesquisas sobre aspectos específicos da relação terapêutica foram desenvolvidas desde então cujos resultados, por sua vez, impulsionaram a busca de conhecimento científico sobre outros processos e propostas terapêuticas.
FERRAMENTA
Ser evocativo de modo a despertar os comportamentos-alvo dos clientes pode ser desafiador até para o clínico mais experiente. Por isso, as psicólogas Pricila Albrecht Bornholdt e Camilla Volpato Broering criaram o “Baralho da FAP: psicoterapia analítica funcional”, publicado pela Sinopsys Editora.
A ferramenta tem como objetivo auxiliar o psicólogo clínico que já tem conhecimento sobre a FAP a fazer evocações em sessão. Por sua natureza, também pode colaborar de forma complementar na explicação básica acerca das características próprias da terapia, permitindo ao profissional ser flexível para evocar conteúdos e fazer intervenções personalizadas para cada cliente.