Hepatites virais: o que são e quais as formas de prevenção?
09 de Julho de 2021
As hepatites virais são inflamações no fígado provocadas por diferentes tipos de vírus - A (HAV), B (HBV), C (HCV), D (HDV) e E (HEV). Cada uma delas tem suas especificidades que precisam ser conhecidas para que haja prevenção ou diagnóstico e tratamento imediatos.
TIPO A
Também conhecida como hepatite infecciosa, a hepatite A soma o maior número de casos entre as hepatites virais, mas é uma doença de caráter leve e benigno na maioria dos casos.
Sua transmissão é fecal-oral, ou seja, pelo contato de fezes com a boca. Sendo assim, tem grande relação com alimentos ou água não seguros, baixos níveis de saneamento básico e de higiene pessoal.
Outras formas de transmissão do vírus HAV são os contatos pessoais próximos - intradomiciliares, pessoas em situação de rua ou entre crianças em creches - e os contatos sexuais - especialmente sexo oral e anal.
Quando presentes, os sintomas da hepatite A são inespecíficos, podendo se manifestar inicialmente como fadiga, mal-estar, febre e dores musculares, seguidos de sintomas gastrointestinais, como enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia.
A presença de urina escura ocorre antes da fase em que a pessoa pode ficar com a pele e os olhos amarelados (icterícia). Os sintomas costumam aparecer de 15 a 50 dias após a infecção e duram menos de dois meses.
A vacina é considerada a principal forma de prevenção da hepatite A, sendo altamente eficaz e segura. Mas também são importantes os cuidados diretamente relacionados à higiene e ao saneamento básico.
É necessário, portanto, lavar as mãos, principalmente após o uso do sanitário, a troca de fraldas e antes do preparo de alimentos; lavar com água tratada, clorada ou fervida os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos; cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes; e lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras.
Também é indicado não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de locais onde haja esgoto, assim como evitar a colocação de fossas próximas a poços e nascentes de rios.
Outras formas de prevenção incluem usar preservativos, higienizar as mãos, genitálias, períneo e região anal antes e depois das relações sexuais, assim como higienizar devidamente acessórios eróticos.
TIPO B
Também classificada como uma infecção sexualmente transmissível, a hepatite B é o segundo tipo com maior incidência entre as hepatites virais. Causada pelo vírus HBV, presente no sangue e secreções, atinge maior proporção de transmissão por via sexual e contato sanguíneo.
Inicialmente, caracteriza-se como uma infecção aguda e, na maior parte dos casos, se resolve espontaneamente até seis meses após os primeiros sintomas. Essa resolução é evidenciada pela presença de anticorpos chamados anti-HBs.
Contudo algumas infecções permanecem, mantendo a presença do marcador HBsAg no sangue. Nesses casos, a infecção é considerada crônica. O risco de se tornar crônica depende da idade do indivíduo.
As crianças, por exemplo, têm maior chance de desenvolverem a forma crônica da hepatite B. Por isso, é extremamente importante a testagem de gestantes no pré-natal e, se necessária, a profilaxia para a prevenção da transmissão vertical.
Em adultos, 20% a 30% dos infectados cronicamente desenvolverão cirrose e/ou câncer de fígado.
O HBV pode sobreviver por períodos prolongados fora do corpo e tem maior potencial de infecção que os vírus da hepatite C e HIV.
As principais formas de transmissão são: relações sexuais sem preservativos com pessoas infectadas; da mãe infectada para o filho durante a gestação ou parto; compartilhamento de material para uso de drogas (seringas, agulhas e cachimbos); compartilhamento de materiais de higiene pessoal (lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, alicates de unha ou outros objetos que furam ou cortam).
Também há risco ao fazer tatuagem ou colocar piercings e em procedimentos odontológicos ou cirúrgicos que não atendam às normas de biossegurança; contato próximo de pessoa a pessoa (presumivelmente por cortes ou feridas); e em transfusões de sangue (mais raro após 1993).
A hepatite B tem evolução silenciosa, geralmente com diagnóstico após décadas da infecção. Os sinais e sintomas, quando presentes, são comuns às demais doenças crônicas do fígado e costumam manifestar-se apenas em fases mais avançadas, na forma de cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre e dor abdominal. A ocorrência de pele e olhos amarelados é observada em menos de um terço dos pacientes.
A vacinação é a principal medida de prevenção contra a hepatite B, sendo considerada extremamente eficaz e segura.
Outros cuidados ajudam, como usar preservativo em todas as relações sexuais e não compartilhar objetos de uso pessoal. A testagem das mulheres grávidas ou com intenção de engravidar também é fundamental para prevenir a transmissão da mãe para o bebê.
TIPO C
Causada pelo vírus HCV, a hepatite tipo C pode se manifestar na forma aguda ou crônica. Tem como principal forma de transmissão o contato com sangue.
Considerada a mais grave entre as hepatites virais, evolui sorrateiramente e se caracteriza por um processo inflamatório persistente no fígado. Aproximadamente 60% a 85% dos casos se tornam crônicos e, em média, 20% evoluem para cirrose ao longo do tempo.
Uma vez estabelecido o diagnóstico de cirrose hepática, o risco anual para o surgimento de carcinoma hepatocelular é de 1% a 5%. O risco anual de descompensação hepática é de 3% a 6%. Após um primeiro episódio de descompensação hepática, o risco de óbito nos 12 meses seguintes é de 15% a 20%.
A maior prevalência da doença está entre pessoas com idade superior a 40 anos, sendo mais frequentemente encontrada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Pessoas submetidas a hemodiálise, privados de liberdade, usuários de drogas e pessoas vivendo com HIV são exemplos de populações mais vulneráveis à infecção pelo HCV.
A transmissão pode ocorrer por contato com sangue contaminado, compartilhamento de agulhas, seringas e outros objetos para uso de drogas (cachimbos), reutilização ou falha de esterilização de equipamentos médicos ou odontológicos; falha de esterilização de equipamentos de manicure; reutilização de material para tatuagem.
Também na lista de formas de contágio estão procedimentos invasivos (hemodiálise, cirurgias, transfusão) sem os devidos cuidados de biossegurança; uso de sangue e seus derivados contaminados, relações sexuais sem preservativos; transmissão da mãe para o filho durante a gestação ou parto.
A hepatite C não é transmitida pelo leite materno, comida, água ou contato casual, como abraçar, beijar e compartilhar alimentos ou bebidas com uma pessoa infectada.
O surgimento de sintomas em pessoas com HCV é raro. Cerca de 80% delas não apresentam qualquer manifestação. Por isso, a testagem espontânea da população prioritária é muito importante no combate à doença.
Em geral, a hepatite C é descoberta em sua fase crônica. Normalmente, o diagnóstico ocorre após teste rápido de rotina ou por doação de sangue.
Não existe vacina contra a hepatite C. Para evitar a infecção, é importante usar preservativos nas relações sexuais, não compartilhar objetos que possam ter entrado em contato com sangue ou objetos utilizados para o uso de drogas.
Além disso, toda grávida precisa fazer, no pré-natal, os exames para detectar as hepatites B e C.
Pessoas com hepatite C podem participar de todas atividades, incluindo esportes de contato. Também podem compartilhar alimentos e beijar outras pessoas.
TIPO D
Causada pelo vírus HDV, a hepatite D, também chamada de delta, está associada com a presença do vírus B da hepatite (HBV) para causar a infecção e a inflamação das células do fígado.
Existem duas formas de infecção pelo HDV: coinfecção simultânea com o HBV e superinfecção pelo HDV em um indivíduo com infecção crônica pelo HBV.
A hepatite D crônica é considerada a forma mais grave das hepatites virais crônicas, com progressão mais rápida para cirrose e um risco aumentado para descompensação, carcinoma hepatocelular e morte.
As formas de transmissão são idênticas às da hepatite B. Da mesma forma que nas outras hepatites virais, quem tem hepatite D pode não apresentar sinais da doença. Quando presentes, os sintomas mais comuns são cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.
A vacina contra a hepatite B é a principal forma de prevenção também da hepatite D. Outras medidas envolvem o uso de preservativos em todas as relações sexuais e o não compartilhamento de objetos de uso pessoal. Além disso, toda mulher grávida precisa fazer os exames para detectar as hepatites no pré-natal.
TIPO E
Responsável pela hepatite E, o vírus HEV é transmitido por via fecal-oral e causa a doença na forma aguda de curta duração. Na maioria dos casos, tem caráter benigno. Porém pode ser grave na gestante e mais raramente causar infecções crônicas em pessoas com imunodeficiência.
A hepatite E não tem dados de prevalência significativos no Brasil como as demais hepatites virais, mas é muito comum na Ásia e África. Sua forma de transmissão favorece a disseminação nos lugares em que há contaminação dos reservatórios de água.
Outras formas de transmissão incluem ingestão de carne mal-cozida ou produtos derivados de animais infectados, transfusão de produtos sanguíneos infectados e transmissão vertical de uma mulher grávida para seu bebê.
Em adultos jovens, geralmente, o vírus HEV causa hepatite aguda de curta duração e autolimitada (duas a seis semanas).
Embora a infecção ocorra também em crianças, elas geralmente não têm sintomas ou apresentam apenas uma doença leve sem icterícia que não é diagnosticada.
Quando presentes nos adultos, os sintomas iniciais incluem fadiga, mal-estar, febre e dores musculares, que são seguidos de enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia, presença de urina escura e pele e os olhos amarelados.
A hepatite E fulminante ocorre com mais frequência durante a gravidez. As mulheres grávidas infectadas, particularmente aquelas no segundo ou terceiro trimestre de gestação, apresentam maior risco de insuficiência hepática aguda, perda fetal e mortalidade.
Não há vacina contra o HEV. Portanto a melhor forma de evitar a doença é melhorando as condições de saneamento básico e de higiene, tais como as medidas para prevenção da hepatite do tipo A.