Formulação e conceitualização de casos na TCC
02 de Maio de 2024
Embora muitas vezes apareçam descritas como sinônimos, a formulação e a conceitualização de casos são tarefas diferentes dentro da terapia cognitivo-comportamental (TCC).
A formulação é mais ampla e engloba a conceitualização. Trata-se de um método e uma estratégia clínica para elaborar uma descrição do problema atual do paciente, uma compreensão de seus padrões mal-adaptativos, uma teoria sobre o porquê e como esses padrões se desenvolveram, bem como uma ou mais hipóteses de quais processos estão mantendo esses padrões ativos.
Além disso, antecipa os possíveis problemas e obstáculos no processo terapêutico, orientando o foco do tratamento. Também tem como funções reforçar a aliança terapêutica – por meio de um trabalho produtivo e da relação colaborativa – e preparar o paciente para o término da terapia.
É, portanto, um modelo necessário a ser seguido e um direcionamento a fim de guiar todo o processo terapêutico de forma a otimizar e/ou potencializar as intervenções e estratégias clínicas.
Investigação
Para que uma formulação de caso seja eficaz, o terapeuta deve investigar determinados aspectos com seu paciente, como: diagnóstico clínico, problemas atuais enfrentados, fatores estressores precipitantes dos mesmos, predisposições genéticas e familiares, pensamentos automáticos, crenças intermediárias e crenças centrais.
Em relação aos dados para inserir na formulação de caso, o profissional pode coletá-los de diversas fontes, como entrevista clínica, observações, aplicação de escalas ou questionários e até mesmo informações concedidas pelos familiares e/ou outros profissionais envolvidos no processo.
Uma vez construída a formulação de caso e colocada em prática, ela precisa ser constantemente revisada, e o terapeuta deve verificar se os sintomas estão remitindo, se os resultados estão sendo alcançados como esperado, se o paciente está aderindo bem às intervenções e se a aliança terapêutica está fluindo bem.
Padrão cognitivo
Por sua vez, a conceitualização de caso faz referência específica ao padrão cognitivo do paciente, envolvendo seus pensamentos automáticos, suas crenças intermediárias e suas crenças nucleares.
A conceitualização clássica do psiquiatra norte-americano Aaron Beck, considerado o pai da TCC, baseia-se no modelo cognitivo, cujo pressuposto fundamental é de que a forma como cada um percebe e interpreta os eventos influencia suas reações emocionais, comportamentais e fisiológicas.
Os aspectos relevantes da conceitualização proposta por Beck podem ser encontrados no diagrama de conceituação cognitiva e servem como um mapa do funcionamento do paciente, de como ele desenvolveu suas dificuldades atuais e de quais são os caminhos para se chegar aos objetivos terapêuticos.
Crianças e adolescentes
As descobertas das neurociências e do desenvolvimento infantil alteraram profundamente a natureza dos fatores utilizados na conceitualização de casos clínicos com crianças e adolescentes.
A medicina e a psicologia também têm cada vez mais reconhecido a importância dos fatores culturais e espirituais, além dos biológicos, psicológicos e sociais. Embora esses desenvolvimentos tenham provocado mudanças significativas, o conteúdo da maioria das conceitualizações de casos não mudou tanto.
Os psicoterapeutas ainda necessitam coletar cuidadosamente as informações de crianças, adolescentes, familiares, professores e outros profissionais ligados a essa clientela para então sintetizá-las em uma história coerente. Essa coleta de dados, então, é utilizada para informar o tratamento e comunicar a história de forma eficaz a todos os envolvidos.
Livro
Primeiro do gênero voltado para a população infantojuvenil em língua portuguesa, o livro ‘Como formular casos na infância e na adolescência: da terapia cognitivo-comportamental às terapias contextuais’ apresenta diferentes modelos de formulação e conceitualização de casos para o trabalho com crianças e adolescentes.
Ao fornecer ao leitor uma análise aprofundada das variáveis envolvidas, das estratégias e das considerações necessárias, o resultado é uma obra abrangente, completa e carregada de recursos para terapeutas de todos os níveis de treinamento e expertise clínica.
Organizado pelas psicólogas Camilla Volpato Broering e Nazaré Maria de Albuquerque Hayasida e publicado pela Sinopsys Editora, o livro facilita o acesso a tratamentos baseados em evidências a partir de diferentes perspectivas psicoterapêuticas para o tratamento de quase todo o espectro de problemas que podem aparecer em consultório.