Burnout entre estudantes de graduação e pós-graduação

Se previamente a síndrome de burnout era concebida estritamente como um transtorno relacionado ao trabalho, hoje muitos estudos buscam levantar sua incidência e compreender seus efeitos em estudantes de nível superior.

Parte-se do pressuposto de que o âmbito acadêmico – permeado pela demanda de excelência, imposição de tarefas, prazos exíguos para o cumprimento de atividades, relações assimétricas/hierárquicas (docente/aluno) e pressão por resultados – carrega demandas que se assemelham àquelas das relações e do ambiente de trabalho.

Dimensões

A síndrome de burnout é, sobretudo, compreendida por meio de três dimensões: exaustão emocional, cinismo e ineficácia. No contexto acadêmico, é algumas vezes denominada burnout acadêmico e, em geral, ocorre entre estudantes de nível superior (graduação e pós-graduação) e técnico.

O burnout acadêmico detém dimensões equivalentes à síndrome de burnout, mas a caracterização do mesmo é centrada em elementos inerentes ao contexto acadêmico.

Em síntese, no burnout acadêmico, a dimensão exaustão refere-se ao sentimento de estar exaurido devido às demandas acadêmicas, enquanto a dimensão ineficácia consiste no sentimento prolongado ou crônico de incompetência para com as atividades e demandas universitárias.

Por sua vez, o cinismo é inerente às condutas de desapego em relação às exigências acadêmicas e/ou direcionado a pares, pacientes ou clientes.

Assim sendo, o burnout acadêmico consiste em uma desordem que impacta de forma negativa o engajamento acadêmico e o processo de aprendizagem.

Transtornos mentais

É certo que competitividade, demanda de excelência, elevada exigência de produtividade, prazos exíguos para a consecução de atividades, docentes abusivos, exposição à violência moral (docentes/orientadores/colegas) e um ambiente pouco saudável e com pouco suporte social propiciam a eclosão de transtornos mentais, destacando-se depressão, ansiedade e síndrome de burnout em estudantes.

Por outro lado, as variáveis pessoais parecem também exercer efeito sobre o desenvolvimento de burnout e de patologias secundárias. Entre essas variáveis, estão insatisfação com o curso e/ou tema de pesquisa, estresse, ausência de engajamento em atividades extra-acadêmicas/de lazer, perfeccionismo, baixa autoeficácia e dificuldades acadêmicas.

Diante de tais fatos, visando contribuir com medidas para a qualidade de vida dessa população, é notório que o estudo da síndrome de burnout e de outras patologias nesse grupo e contexto deve ser considerado em estudos com alunos de níveis superior e técnico no Brasil.

Uma vez que são escassas, tornam-se imprescindíveis mais pesquisas que promovam novos conhecimento e reflexões para ampliação das medidas preventivas e interventivas adequadas junto a esse grupo.

Igualmente importante que sejam debatidas e pensadas estratégias mais amplas, para além da clínica psicológica, para que possam ocorrer mudanças no ambiente acadêmico.

Literatura

Esse e outros assuntos correlatos são aprofundados no livro ‘Terapia cognitivo-comportamental na síndrome de burnout: contextualização e intervenções’, organizado pela psicóloga Anelisa Vaz de Carvalho e publicado pela Sinopsys Editora.

Seu conteúdo, apresentado em 15 capítulos por especialistas de diferentes países, oferece o estado da arte sobre revisão teórica, empírica e prática clínica relacionadas ao transtorno, conferindo à publicação um status teórico-empírico internacional.

A obra é recomendada não somente a professores e pesquisadores, mas também a graduandos das áreas de saúde e empresarial interessados no tema.